Foi durante o trabalho em uma obra nos fundos da casa de
Tereza Barbosa, 57 anos, no subúrbio ferroviário de Salvador, que o pedreiro
Edvaldo Silva, 24 anos, encontrou um poço de petróleo há pouco mais de uma
semana. “Os meninos [colegas de obra] estavam tirando pedra e viram o tubo.
Eles pensaram que era óleo, eu pensei que era esgoto. Senti o cheiro [de
combustível], lembrei que aqui [na região] foi o primeiro lugar que se
encontrou petróleo [no país] e coloquei a mão onde estava vazando. Vi que era
petróleo e chamei a dona da casa”, descreveu o rapaz.
A casa afortunada está localizada na Rua Getúlio Vargas, no
Lobato, bairro onde o primeiro vestígio de petróleo do país foi encontrado, no
ano de 1939, justamente a alguns metros da casa de Tereza. "Quando meu
irmão chegou aqui, riu e disse que sempre sonhou em ver essa cena porque
esperávamos, dede pequenos, encontrar petróleo em algum lugar do bairro",
disse Tereza, que residiu no bairro do Lobato há alguns anos e voltou a morar
no local há cerca de um ano e meio. Ela e a família são de São Roque do
Paraguaçu, localizada na cidade de Maragojipe, no recôncavo baiano.
O bairro do Lobato fica no subúrbio ferroviário e é
considerado um bairro pobre. Algumas das ruas não têm nem sequer asfalto. A rua
em que fica a casa 76 D, inclusive, leva o nome de Getúlio Vargas, presidente
que criou a campanha "Petróleo é Nosso" logo após a descoberta da
riqueza no Brasil. O bairro é cercado pela Baía de Todos os Santos, uma das
maiores do país.
A plataforma usada para a exploração de petróleo da área
está desativada desde o fim da década de 1980, segundo informações da Agência
Nacional do Petróleo (ANP). Bem perto da extinta área produtiva, foi feita uma
praça com quadra de esportes, tem um pequeno galpão abandonado e um monumento
que indica o marco histórico do petróleo no país.
Ao se aproximar do tubo de onde vaza o combustível na casa
de Tereza, o cheiro forte logo acusa a existência do petróleo. A dona de casa
conta que ficou assustada ao ser informada da descoberta do oléo no terreno que
comprou nos fundos da sua casa. Ela afirma que não pensou em dinheiro, mas nos
riscos ao meio ambiente e à segurança da comunidade humilde em que mora.
"Tive medo de algum acidente, não sabia o risco que
estava correndo. Tinha medo de explodir, de algum desastre ambiental, não
pensei no meu bem estar, fiquei preocupada com a minha família, com a
comunidade. Hoje, penso nas melhorias que isso pode trazer aqui para a
comunidade, o Lobato é um bairro rico, mas não é valorizado", declarou.