Aly Muritiba trabalhava de bilheteiro em uma estação de trem
em São Paulo quando uma equipe de filmagem chegou ao local para rodar uma cena.
Eles precisavam de um extra para "interpretar"... um bilheteiro.
Muritiba ganhou o papel e R$ 500.
Apesar de a ponta não ter entrado no corte final do longa
"De Passagem" (2003), de Ricardo Elias, o baiano da pequena Mairi
nunca esqueceu dessa experiência cinematográfica aos 18 anos.
Nem mesmo quando começou fazer faculdade de história. E nem
quando se mudou para Curitiba, onde trabalhou como agente penitenciário e mora
até hoje.
Aos 33, depois de cursar cinema no Paraná (e não se formar),
Muritiba virou diretor do curta "A Fábrica", que fez parte da lista
preliminar dos indicados ao Oscar 2013.
Não entrou na lista final da Academia. Mas o ex-bilheteiro
não se importou.
"Eu tenho tido tanto trabalho que não dá tempo pra esse
negócio de decepção. Decepção é meu Flamengo", brinca o novo cineasta.
Muritiba não tem do que reclamar. Na terça-feira passada, o
ex-bilheteiro ganhou o Global Filmmaking, no Festival de Sundance (EUA), criado
por Robert Redford.
O prêmio lhe renderá US$ 10 mil (R$ 20 mil) --além de um ano
de cursos e tutela do festival-- para completar o roteiro de seu primeiro
longa, "O Homem que Matou a Minha Amada Morta", um drama de vingança
que começa a ser filmado em outubro.
"É um grande passo ter meu trabalho reconhecido antes
mesmo de ser filmado. Sundance é o templo do cinema de invenção, que não segue
fórmulas e ousa", exalta o diretor e roteirista.
Aly Muritiba agora faz parte uma nova geração de cineastas
brasileiros com referências múltiplas.
Cita Michael Haneke ("Amor") e os belgas
Jean-Pierre e Luc Dardenne, de "O Garoto de Bicicleta" (2011), como
influência e admira a "coragem de Cláudio Assis", cineasta de "A
Febre do Rato".
"Estamos com uma produção instigante, feita por uma galera
jovem", diz Muritiba, já emplacando um discurso de diretor experiente:
"Temos os filmes 'soap opera' oferecidos pela Globo, mas eles são
necessários". (RODRIGO SALEM)
Fonte: 1.folha.uol.com.br
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